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Campinas sediou corridas automobilísticas de circuitos de rua entre os anos de 1935 a 1958, com os Circuito do Chapadão e Circuito Cidade de Campinas.
As corridas de automóveis em Campinas tiveram início quando um grupo de esportistas da cidade realizaram em junho de 1935 a prova “Circuito do Chapadão” nas terras do novo loteamento.
A corrida contou com o patrocínio da Prefeitura de Campinas, sendo vencida por um jovem promissor chamado Francisco Landi com um pequeno FIAT azul claro. O piloto ganhou um prêmio de 10 contos de réis e um terreno no loteamento.
Circuito do Chapadão de 23/06/1937
Em junho de 1935, três esportistas da cidade de Campinas, Dante di Bartolomeu, Quintino Maudoneet e Luiz Gonzaga Goes, ajudados por J. Sampaio Freire, realizaram com o patrocínio da Prefeitura Municipal, aquela que foi considera a primeira corrida de rua da cidade: a prova “Circuito do Chapadão”, nas terras vermelhas do novo loteamento.
A prova, agendada inicialmente para o dia 16/06/35, contaria com a participação de alguns corredores estrangeiros que haviam participado do “III Circuito da Gávea” duas semanas antes no Rio de Janeiro, mas a chuva destruiu boa parte da pista e a prova precisou ser adiada, causando a desistência dos estrangeiros. Por isso Campinas não se tornou a primeira cidade do estado de São Paulo a realizar uma corrida automobilística internacional.
A prova acabou sendo realizada no dia 23, tornando-se um sucesso. A corrida foi vencida por um jovem promissor chamado Francisco Landi, que ganhou um prêmio de 10 contos de réis e um terreno no loteamento.
A corrida em Campinas contou com 14 carros inscritos, com 3 Ford e 2 Chevrolet, um Hudson, um Studbaker , um Chrysler, um Bugatti e dois Fiat, um de 6 cilindros e outro de 4 cilindros, o menor em dimensões entre os inscritos e com 1500cc. Também chamavam a atenção os Ford V-8 de Benedicto Lopes e Cícero Marques Porto que tiveram ótima atuação na Gávea.
O grid e largada, definido por sorteio com os carros alinhados 3 x 3, tinha: Segadas Viana na pole-position (Chevrolet adaptado) , Ângelo Gonçalves em segundo (Chevrolet adaptado) e Chico Landi em terceiro (Fiat GP) .
Dada a largada, Landi não deu chance para a concorrência liderando a competição de ponta a ponta. Cícero Marques Porto passou para segundo ainda no início da prova, seguido por Benedicto Lopes. Com o abandono de Lopes na 26ª volta, Porto também se acomodou na segunda posição, sem que houvesse alteração até o final da prova. Depois de 2h48m Chico Landi recebeu a bandeirada de chegada, com Cícero Marques Porto em segundo com dez minutos de retardo.
Chico Landi havia adquirido um FIAT, carro que tina participado de três GPs da Cidade do Rio de Janeiro. Com sua habilidade em mecânica, transformou o veículo em um bólido imbatível e com ele obteve sua primeira vitória em Campinas.
Chico Landi pilotava seu pequeno FIAT com facilidade nas curvas, deixando a traseira do bólido derrapar, enquanto a frente do veículo ia em sentido a tangente interna da curva, exercendo pequena pressão no freio, o que fazia diferença entre os outros carros maiores e mais pesados, deixando o público entusiasmado com esse novo tipo de manobra comparada à patinação. Com agilidade deslizava o enorme volante de um lado para o outro nas proximidades das curvas, fazendo o carro azul claro deslizar e não perder a velocidade.
RESULTADO
Percurso: 44 voltas de 4,545 km = 200,000 km
Tempo: 2h48m
Média horária: 71,429 km/h
Pilotos e carros:
1º - Chico Landi (SP) - Fiat nº6 (1.484cc) - lagou em 3º.
2º - Marques Porto (RJ) - Ford V-8 Adaptado nº 16 (3.622cc) - largou em 8º.
3º - Ângelo Gonçalves (SP) - Chevrolet Adaptado nº 4 (3.48cc) - largou em 2º.
4º - Alfredo Braga (RJ) - Bugatti T37A nº 18 (1.496cc) - largou em 9º.
5º - Armando Sartorelli (SP) - Ford V-8 Adaptado nº 20 (3.622cc) - largou em 10º .
Não completaram a prova:
Segadas Viana (RJ) - Chevrolet V-8 Adaptado nº 2 (3.548cc) largou em 1º.
Querino Landi (SP) - Bugatti T37A nº 8 (1.496cc) - largou em 4º.
Renato Lopes (SP) - Adler nº 10 (1.670cc) - largou em 5º.
Antônio Bertanzoli (SP) - Ford -V-8 nº4 Adaptado nº12 (3.622cc) - largou em 6º.
Hugo Teixeira (RJ) - Bugatti T37A Willys nº 14 (2.199cc) - largou em 7º.
José Santiago (RJ) - Adler nº 20 (1.670cc) - largou em 10º.
Oliveira Júnior (RJ) - Ford V-8 Adaptado nº 22 (3.622cc) - largou em 11º.
Armando Gringo (SP) - Ford V-8 Adaptado nº 24 (3.622cc) - largou em 12º.
Benedicto Lopes (SP) - Ford V-8 Adaptado nº 26 (3.622cc) - largou em 13º.
Em setembro do ano de 1937 foi disputada a segunda edição do “Circuito do Chapadão”. A prova despertou grande interesse dos pilotos, chegando a quase quarenta inscrições.
O campineiro Benedicto Lopes foi destaque pois retornava de sua participação em duas provas em Portugal. Seu principal adversário seria Rubem Abrunhosa que pilotava um Alfa Romeo 8C 2300 igual ao dele.
O predomínio de Benedicto Lopes foi completo, vencendo a prova com três voltas de vantagem para o segundo colocado, José Soeiro. Durante esta prova faleceu Fernando de Moraes Sarmento, vítima de acidente quando o seu carro capotou.
Dez anos depois, em 1947, foi realizado e organizado pela terceira vez o “Circuito do Chapadão” no dia 7 de setembro de 1947, dessa vez pelo A.C. Piratininga. A prova foi vencida por Chico Landi em uma disputa equilibrada com Benedicto Lopes, mas só até a quinta volta quando este abandonou por problema nos freios.
No ano seguinte em 1948 a cidade voltou a promover outra corrida, o “I Circuito Cidade de Campinas”, desta vez pelas ruas centrais, não mais no Jardim Chapadão.
O percurso foi esse: Av. Orosimbo Maia, Av. Francisco Glicério, Rua Coelho Neto, Rua Sacramento, Rua Tiradentes, Rua José Paulino, Av. Barão de Itapura, Av. Brasil, e Av. Orosimbo Maia, totalizando 2400 metros (ver mapa ao lado).
Os jornais da época diziam ser uma iniciativa da sucursal paulista do Automóvel Clube do Brasil, “...recentemente fundada”, e a renda teria de seu valor líquido 80% destinada em favor das obras do Estádio do Guarani Futebol Clube, os 20% restantes distribuídos entre os pilotos dos carros de corrida, e adaptados, que largassem com seus carros em perfeitas condições técnicas. Os ingressos tinham o preço único de Cr$ 20,00 (vinte cruzeiros).
Os treinos foram realizados no dia 7, das 15 às 17 horas e no dia 8, das 9 às 12 horas. As inscrições que deveriam se encerrar no dia 12 foram prorrogadas até “momentos antes das eliminatórias”, e as eliminatórias foram na sexta-feira anterior à prova, das 14 às 17 horas.
Todos esperavam um “duelo” entre Chico Landi e Benedicto Lopes na prova, os dois pilotos que haviam corrido no exterior e que nessa prova correriam com carros iguais, Alfa-Romeu 3000cc.
O programa previa duas provas de turismo antes do “I Circuito Cidade de Campinas” e estava assim organizado:
9:00h - Turismo até 2000cc
10:00h - Turismo de força livre (não eram as carreteras)
11:00h - I Circuito Cidade de Campinas
Antes das eliminatórias os pilotos puderam realizar um ligeiro treino para reconhecimento da pista, e foi nesse treino que o piloto santista Edmundo Chade ao desviar de um garoto que atravessou a pista chocou-se com uma árvore sofrendo ferimentos generalizados e fraturas, no braço e tornozelo, além de quase destruir o carro.
Com atraso em função do acidente a classificação teve início às 15:30h e começou com os carros de turismo. Na principal, Chico Landi ficou com a pole ao marcar 1’40”, seguido por Francisco Marques com Maserati com 1’42”9 e Benedicto Lopes em terceiro com 1’44”4.
A direção geral da prova ficou a cargo de Arnaldo Borghi e Artur Bastos e a cronometragem teve como chefe Lauro de Barros Siciliano. Os prêmios em disputa eram:
1º colocado Cr$ 30.000,00
2º colocado Cr$ 20.000,00
3º colocado Cr$ 15.000,00
4º colocado Cr$ 10.000,00
5º colocado Cr$ 5.000,00
No domingo da prova, 15 de agosto, o publico compareceu em massa e tudo transcorreu em perfeita ordem, mas o inicio da primeira disputa atrasou, largando por volta de 10 horas, atrasando assim as demais. Após as provas de turismo alinharam os carros de corrida e adaptados na seguinte ordem:
Dada a largada Chico Landi assumiu a ponta seguido de Marques e Credentino, Benedicto largou mal e caiu para 5º lugar. Na quarta volta a primeira desistência, João Santo Mauro, o “Jaburu”, na 11ª volta Benedicto já passou em terceiro, na 17ª volta desistiram Moacir Carlos Leite e Antonio Fernandes.
Na 21ª volta Benedicto já estava em segundo onde ficou até a 27ª volta quando parou no box para trocar uma vela que estava falhando, caiu para quinto e na volta seguinte parou definitivamente, também a desistência de Luiz Valente num Ford adaptado, e faltando 7 voltas para as 50 previstas, Henrique Casini, único carioca na prova, abandonou com motor fundido, ele que correra desde a 8ª volta em segunda marcha por ter quebrado a caixa de cambio.
Dessa forma apenas dez dos que largaram chegaram ao final, ficando assim a classificação:
1º Chico Landi - 50 voltas - 1h21’33”
2º Francisco Marques - 49 voltas
3º Francisco Credentino - 48 voltas
4º Antonio Parra - 47 voltas
5º Amaral Junior - 45 voltas
6º Arlindo Aguiar - 43 voltas
7º José Zaza - 43 voltas
8º Pascoalino Buonacorsa - 41 voltas
9º Luciano Bonini - 38 voltas
10º Angelo Gonçalves
Na prova de Turismo até 2000cc o vencedor foi Amaral Junior com um Fiat e na de Turismo de força livre Jaime Neves venceu com um Alfa-Romeu.
Após cinco anos sem provas na cidade a Comissão Desportiva de São Paulo do Automóvel Clube do Brasil promoveu e organizou o “II Circuito Cidade de Campinas”, previsto para o dia 31 de maio de 1953.
O percurso escolhido desta vez era um pouco menos “travado” e compreendia: Av. Orosimbo Maia, Rua José Paulino, Av. Barão de Itapura e Av. Brasil retornando depois à Av. Orosimbo Maia, totalizando 2250 metros (ver mapa ao lado).
No domingo correriam três categorias: Turismo e Esporte, Turismo apenas para pilotos da cidade e a principal que reuniria carros Grand Prix, Mecânica Nacional e Super Esporte.
Na prova de Turismo e Esportes 13 pilotos se inscreveram, na de Turismo local até a quinta-feira anterior à prova só haviam 5 inscritos, mas ela acabou não sendo realizada. Na principal estavam inscritos 14 pilotos, sendo 10 de São Paulo e 4 do Rio de Janeiro.
Os inscritos eram esses abaixo:
1 - Claudio Daniel Rodriges (SP) - M.G.
2 - Francisco Landi (SP) - Ferrari
3 - Fernando Pereira Barreto (SP) - Maserati
4 - Gino Bianco (RJ) - Maserati
6 - Henrique Casini (RJ) - Ferrari
8 - Luis Marco Polo (RJ) - Maserati
10 - Jair Melo Vianna (SP) - Ferrari
15 - Artur Souza Costa (RJ) Maserati
20 - Raphael Gargiulo (SP) - Ford Especial
22 - Luiz Valente (SP) - Duchen Especial
25 - Ico Ferreira - (SP) - M.G.
30 - Alberto Rabay (SP) - DeSoto Especial
80 - Ciro Cayres (SP) - Allard
84 - Pedro Romero Filho (SP) - Allard
Só como curiosidade, Artur Sousa Costa era filho do Ministro da Fazenda mais longevo do governo de Getulio Vargas (de 1934 até 1945), e viria a se casar com a famosa cantora Emilinha Borba em 1957.
No dia 28 aconteceu o único treino livre, onde o público compareceu em grande número e mostrou-se muito entusiasmado, nesse dia treinaram, mas depois não participaram da corrida, Luciano Falzoni, Celso Lara Barberis, Godofredo Vianna Filho (com o carro do irmão), dos pilotos da categoria principal, Claudio Daniel Rodrigues e Fernando Pereira Barreto não participaram pois chegaram atrasados, já ao final da seção de treinos às 17 horas.
As eliminatórias, realizadas no sábado, transcorreram sem surpresas ou acidentes e teve Chico Landi e Henrique Casini nas primeiras posições.
O domingo, dia das provas, amanheceu com chuva, mesmo assim foi dada a largada para a primeira prova, destinada a carros de Turismo e Esporte, prevista para 30 voltas totalizando 67.500 metros.
No entanto como a chuva não passava e “criava ameaça, para os competidores e o próprio publico...” a prova foi suspensa com apenas sete voltas realizadas (15.750 metros) e a corrida principal, adiada para a quinta-feira, dia 4 de junho, às 10 horas, com entrada franca.
A primeira prova, apesar de interrompida com apenas sete das trinta voltas previstas, teve seu resultado validado, na Turismo até 1500cc o vencedor foi Angelo Juliano (Fiat); na Turismo até 3000cc ganhou Ferdinando Bulgarini (Citroen), na Turismo acima de 3000cc venceu “Torpedo” (Dodge) e na Esporte até 1500cc a vitória ficou com Ciro Cayres (Fiat Comino) e finalmente na Esporte acima de 1500cc o vencedor foi “Zorro” (Morgan).
No dia 4, dos três que corriam com Ferrari, Chico Landi e o carioca Henrique Casini eram considerados os favoritos.
Apesar das categorias correrem juntas, Grand Prix, Mecânica Nacional e Super Esporte, para efeito da premiação em dinheiro a classificação era uma só, por categorias só haviam taças aos três primeiros.
Na quinta-feira, com tempo bom, as 10 horas foi dada a largada, e confirmando as previsões Chico Landi venceu de ponta a ponta, colocando 2 voltas sobre o segundo, Casini, Landi completou as 50 voltas em 1h03’53”5, com a velocidade média de 105,468 km/h, foi dele também a melhor volta da prova, 1’14”5, média de 108,360 km/h.
Dos 14 inscritos só 11 largaram, e durante a prova Jair de Melo Vianna parou por problemas mecânicos, sendo ajudado por Raphael Gargiulo que parou para ajudá-lo a empurrar o carro para fora da pista, sendo Jair desclassificado, pararam também por quebra durante a prova: Fernando Pereira Barreto, Claudio Daniel Rodrigues, Ico Ferreira e Ciro Cayres. Ao término da prova Gino Bianco, após receber a bandeira quadriculada, ao invés de completar mais uma volta parou o carro e entrou de marcha-a-ré nos boxes.
A classificação ficou assim:
1) Chico Landi - 50 voltas
2) Henrique Casini - 48 voltas
3) Gino Bianco - 46 voltas
4) Alberto Rabay - 45 voltas
5) Luiz Valente - 44 voltas
6) Raphael Gargiulo - 39 voltas
No dia 9 de junho a Comissão Desportiva de São Paulo do Automóvel Clube do Brasil analisa uma carta enviada por Jair de Melo protestando de sua desclassificação e fazendo acusações à João Ribeiro, diretor da corrida. A Comissão, depois de entrevistar o piloto, considerou muito áspera para com o Diretor da prova, autoridade máxima do evento e resolveu suspender por 60 dias o piloto. Foram penalizados também, com menos rigor, os pilotos Raphael Gargiulo que parou seu carro na pista para ajudar Jair a empurrar o carro, deixando o dele momentaneamente na pista, e Gino Bianco por manobra irregular prevista no Código Esportivo, mas a pena dos dois foi uma multa de Cr$ 500,00 e uma advertência por escrito.
O texto foi extraído do site Bandeira quadriculada
Benedicto Lopes
http://pandinigp.blogspot.com.br/2008/11/benedicto-lopes.html
http://www.kolumbus.fi/leif.snellman/gp374.htm#30 (Vila Real)
Fotos antigas das corridas de ruas que aconteceram em Campinas nas décadas de 1930, 1940 e 1950.
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